Tínhamos a informação de que as manifestações teriam baixa adesão, diz Anderson Torres à CPI
A CPI dos atos antidemocráticos ouviu, nesta última quinta-feira (10), o delegado da Polícia Federal e ex-secretário de segurança pública do DF Anderson Torres. Ele chegou a ficar 117 dias preso sob suspeita de omissão nos ataques de 8 de janeiro.
Torres afirmou que os ataques só ocorreram porque não houve o cumprimento do PAI – Protocolo de Ações Integradas, documento que determina um conjunto de ações das forças de segurança, elaborado enquanto ele ainda era secretário. “Por mais violento que fosse, por mais preparados que os manifestantes estivessem, se o PAI tivesse sido cumprido à risca, eu posso afirmar que o dia 8 não teria sido daquela forma”, disse.
O delegado negou que tenha sido omisso nas ações, afirmando suas férias, iniciadas nas vésperas dos ataques, haviam sido programadas dois meses antes. Ele relatou ainda que seu substituto, delegado Fernando de Souza Oliveira, tinha total autonomia para atuar naquela situação. “Se eu soubesse, nem teria viajado” afirmou.
Ainda no início, o depoente prestou um esclarecimento em sua defesa, afirmando que “nunca questionou o resultado das eleições”, que “sempre atuou de forma técnica e legalista” e “que nunca determinou que a PRF interferisse nas eleições”.
Ao ser questionado pelo presidente da CPI, deputado Chico Vigilante (PT), sobre qual teria sido sua atuação com relação aos acampamentos nos quartéis do exército, Torres afirmou que, logo que assumiu o cargo de secretário, determinou que fossem desfeitos, mas apenas a partir do dia 10 de janeiro.
O depoente negou que tenha sido conivente com os manifestantes acampados, alegando que, enquanto ainda ocupava o cargo de ministro de justiça, não atuou para desmobilizar os grupos porque essa não era atribuição do MJ.
Questionado por Vigilante sobre possível omissão do MJ, Torres alegou interferência do próprio Exército. “O Exército nunca permitiu que se tomasse alguma medida com relação àquelas pessoas enquanto elas estavam ali acampadas”, afirmou.
Durante a reunião, os distritais mencionaram a prisão preventiva de Silvinei Vasques, ex-diretor da PRF, suspeito de interferir nas eleições presidenciais de 2022. A ação, ocorrida nesta terça-feira (9), é fruto de inquérito aberto para avaliar se a PRF teria agido para dificultar o trânsito de eleitores no segundo turno, sobretudo na região Nordeste do país. Torres negou que tenha relação com as ações da PRF que estão sendo investigadas e afirmou que “não tinha interferência no planejamento da PRF”.
Em resposta ao deputado Iolando (MDB), que hoje foi relator da CPI, Anderson Torres declarou que, se fosse ministro da Justiça no dia 8, teria convocado a Força Nacional para reprimir os ataques. “Teria feito contato com o Governador e colocar à disposição a Força Nacional”, destacou.
Ele reafirmou ainda ao relator que “houve falha grave no cumprimento do Protocolo de Ações Integradas, esse é o coração do problema”.
Iolando classificou o depoente como “detentor de uma reputação ilibada” e destacou o conjunto de erros que, em sua análise, culminaram nos eventos do dia 8. “ O erro foi a falta de correção do curso das medidas. Para mim, todos os órgãos envolvidos, com base nas informações que se tinha até dia 6, se prepararam para uma manifestação de baixa adesão”, afirmou o distrital.
O deputado Fábio Félix (PSOL) fez críticas à atuação do comando das forças de segurança do DF no dia 8. O distrital relembrou um conjunto de eventos que, segundo ele, colocaram em risco a vida de cidadãos do DF, como os próprios ataques do dia 8 e a tentativa de atentado a bomba ocorrida próximo ao aeroporto.
Félix classificou esse movimento como “sabotagem recorrente”, afirmando que “já ficou comprovado que essa conspiração aconteceu nos acampamentos, inclusive com ataques às urnas eletrônicas e à democracia brasileira”.
O deputado Pastor Daniel de Castro (Progressistas) criticou o que chamou de “narrativa contra a direita”. Ele questionou possível omissão do GSI – Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República mesmo depois de 33 alertas que teriam sido enviados ao Governo Federal pela Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) sobre os ataques. “O Governo Federal sabia, Lula sabia, Dilma sabia, general Dias sabia, todos sabiam. Lula sabia e o que fez? Viajou um dia antes”, afirmou o pastor.
O deputado Joaquim Roriz Neto (PL) classificou Torres como “bode expiatório”, alegando que o depoente não tem culpa sobre o que ocorreu no dia 8. Roriz Neto rebateu, ainda, as alegações de que a PRF teria interferido no acesso dos eleitores às urnas na região nordeste nas eleições.
Já o deputado Max Maciel (PSOL) criticou o fato de Anderson Torres não ter designado, de ofício, um substituto para o período em que estava de férias. Torres respondeu que essa designação se dá de forma automática, uma vez que suas férias já estavam homologadas e tinham sido comunicadas, inclusive ao governador Ibaneis.
A deputada Paula Belmonte (Cidadania) atribuiu ao comando da polícia militar a principal falha que culminou nos ataques. “Ninguém soube me explicar, até hoje, porque a polícia militar do DF foi colocada de sobreaviso naquele dia”, destacou.
A distrital reafirmou ainda que “houve uma sabotagem”, mencionando imagens da Força Nacional se recolhendo em meio à manifestação. Ela criticou ainda o fato de as imagens das invasões não terem sido liberadas pelo ministro da justiça e segurança pública, Flávio Dino.
O deputado Gabriel Magno (PT) criticou narrativas que, segundo ele, estão sendo criadas dizendo que haveria infiltrados em meio aos manifestantes no momento das invasões. “As declarações do ex-presidente da república foram responsáveis pela tentativa de um golpe de estado”, afirmou o distrital.
Christopher Gama – Agência CLDF
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