Em cada esquina de Goiânia, há uma história de coragem sendo escrita. São pessoas que começaram com pouco, às vezes apenas um sonho, uma habilidade ou uma receita de família, e hoje se tornaram exemplos de que o trabalho e a fé podem, sim, transformar vidas.
Mais do que gerar renda, esses microempreendedores resgatam dignidade, movimentam a economia local e provam que prosperar é possível quando se acredita no próprio potencial. Eles mostram que cada pequena vitória reflete não só em suas famílias, mas também em toda a comunidade.
“A partir do momento que comecei a me ver como empresário, o negócio começou a girar mais rápido.”
Foi assim que o confeiteiro Rickson Reis, criador da marca DuRick, descreveu o momento em que sua doceria deixou de ser apenas um sonho para se tornar um empreendimento de verdade.
Rickson começou vendendo bolos e doces pelas redes sociais durante a pandemia. Começou com bolos de pote e brigadeiros, sem qualquer loja física. A clientela cresceu lentamente, mas de forma consistente. “Eu quase desisti. Pensei em voltar pra minha cidade. Foi quando, no meio de uma oração, senti que devia tentar mais uma vez. Abri a loja, mesmo com o braço quebrado. E foi o melhor ano da DuRick.”
O empreendedor lembra que cada dificuldade trouxe aprendizado. Desde a gestão financeira até a produção em grande escala, Rickson precisou se reinventar e adaptar técnicas para não perder qualidade nem clientes. “Aprendi que empreender não é só vender. É entender pessoas, criar experiências e ter coragem para assumir riscos calculados.”
Hoje, ele comemora cinco anos de trajetória e sonha mais alto: abrir a DuRick Academy, um projeto que vai oferecer cursos gratuitos de confeitaria e panificação para jovens de baixa renda, pessoas negras, LGBTQIA+ e trans. “Quero retribuir o que aprendi. Se não fosse o estudo, eu não teria chegado onde cheguei.”
Outra história que inspira é a de Khrisnna Silveira, 26 anos, criadora da LK Doces, que encontrou na confeitaria uma forma de lidar com o luto pela avó, mulher que a criou com muito amor.
“Comecei a fazer doces pra ocupar a cabeça. Quando vi que as pessoas gostavam, resolvi levar a sério. Me ajuda muito, tem dias que só isso me faz sorrir”, conta emocionada.
De receitas simples, como brigadeiros e bolinha de leite ninho, Khrisnna foi se aprimorando. Já participou de mais de 35 workshops e hoje quer estudar gastronomia. “Fazer doces é uma terapia. É meu jeito de manter viva a lembrança da minha avó e, ao mesmo tempo, construir algo meu.”
Khrisnna explica que a paixão pelos doces surgiu desde a infância, quando ajudava a avó na cozinha. Transformar esse talento em negócio exigiu disciplina, organização e coragem para investir, mesmo com recursos limitados. Hoje, sua loja LK Doces é referência no bairro, e muitos clientes retornam não só pelo sabor, mas pela história que cada receita carrega.
Empreender com o coração e com propósito
Segundo dados da Câmara de Dirigentes Lojistas de Goiânia (CDL Goiânia) e da Junta Comercial do Estado de Goiás (Juceg), o ambiente para novos negócios segue aquecido em 2025. Goiás conta com cerca de 1.101.629 empresas ativas, sendo que Goiânia concentra aproximadamente 337.533 CNPJs, o que representa cerca de 30,7% do total estadual.
Nos primeiros oito meses de 2025, foram abertas 30.442 novas empresas, com mais de R$ 7,6 bilhões em capital social declarado, mostrando confiança e dinamismo do mercado local. A CDL Goiânia possui mais de 6 mil associados distribuídos em 18 mil pontos de venda, isso mostra o crescimento econômico se reflete também na geração de empregos formais, com destaque para o comércio varejista e o protagonismo de empreendedoras que movimentam negócios de casa e digitalmente
Casos como o de Rickson e Khrisnna mostram uma tendência que se espalha por Goiânia: o crescimento de pequenos negócios movidos por afeto, criatividade e vontade de vencer. Segundo dados do Sebrae, o número de jovens empreendedores no país cresceu 25% nos últimos 12 anos, e Goiás acompanha o ritmo.
Em 2024, o estado registrou 168,8 mil jovens empreendedores, 11% a mais que em 2020. O setor de serviços é o mais forte, seguido pelo comércio, que juntos somam mais de 80% das iniciativas entre pessoas de 18 a 29 anos.
O perfil é diverso e cheio de desafios:
• 60% são homens e 40% mulheres
• 47% têm ensino médio completo
• 28% possuem ensino superior incompleto
• 60% se declaram pretos ou pardos
• menos da metade possui CNPJ, o que revela alto índice de informalidade
• o rendimento médio mensal é de R$ 3.078
Mesmo com esses números positivos, os jovens empreendedores enfrentam obstáculos como falta de capital inicial, dificuldade de acesso a crédito e pouca experiência prática. A informalidade ainda é alta, mas a criatividade e a resiliência fazem a diferença.
“O comércio de bairro e as vendas online foram fundamentais para a retomada econômica e o fortalecimento das famílias. Os pequenos negócios mantêm empregos, movimentam recursos localmente e fortalecem a autoestima das pessoas”, destaca Marcos Antônio, analista de economia.
Apoio que transforma
Capacitação, crédito acessível e redes de apoio fazem diferença na trajetória desses sonhadores. Programas do Sebrae, cooperativas e associações locais têm sido pontes entre o sonho e o sucesso. Cursos de gestão, marketing digital e educação financeira ajudam a transformar o talento em negócio sustentável.
Rickson ressalta que empreender exige disciplina e aprendizado constante. “Empreender é mais do que buscar lucro. É sobre resgatar sonhos e acreditar no próprio valor. Cada cliente satisfeito, cada feedback positivo é uma motivação para continuar.”
Sonhar, acreditar e seguir
Entre fornos, receitas e madrugadas de trabalho, esses microempreendedores mostram que prosperidade não se mede apenas em dinheiro, mas em propósito, persistência e esperança.
Como diz Khrisnna, com um sorriso tímido e olhos marejados:
“Fazer doces me devolveu a alegria. É como se cada receita fosse um pedacinho da minha avó dizendo: continua, você consegue.”
E é assim, entre açúcar, coragem e criatividade, que Goiânia adoça o próprio futuro, um sonho de cada vez. Esses empreendedores não apenas transformam suas vidas, mas também inspiram toda uma comunidade, mostrando que, com vontade e resiliência, é possível criar oportunidades e mudar histórias.
Rickson troca processos por prêmios
Luma Silveira